Torcidas Organizadas: Grupos que merecem atenção
- Márcio Júnior
- 15 de ago. de 2015
- 4 min de leitura
Desde os primórdios da humanidade buscamos nos socializar e integrar ao meio para melhor convívio pessoal. A sociedade recebeu no último século uma mudança impactante e que a cada vez que os dias passam, essa transformação ocorre mais rápida e instantânea e as pessoas vão atrás de grupos em busca de proteção, identidade e manifestação. Com o agrupamento dessas pessoas, criam-se pequenas associações que mais tarde poderam se tornar um aglomerado com um objetivo específico.
Esse é o caso das Torcidas Organizadas, sua criação tem em função apoiar, divulgar e acompanhar o time de coração. A primeira manifestação dessa linhagem no Brasil era composta por mulheres que iam aos estádios com bandeirinhas uniformizadas para acompanhar seus maridos nas primeiras atuações do Atlético Mineiro, depois disso surgiu a ideia de Torcida Organizada com a torcida do São Paulo Futebol Clube em 1939, criada na Mooca pelo são-paulino cardeal Manoel Raymundo Paes de Almeida com o nome de Grêmio São-Paulino.
Quando surgiu o termo Torcidas Organizadas, existia um volume de pessoas bem menor do que hoje e haviam mais integração dos participantes. Atualmente o cenário mudou com o avanço da tecnologia possibilitando as pessoas de lugares distantes da sede a participarem, este número passou de centenas para milhares. Tentar controlar e padronizar essa massa de pessoas é complicado. A falta de critérios para admitir uma pessoa na torcida também é outro fator a ser considerado. Mas a Torcida todo mês faz e participa de ações que ajudam pessoas que precisam de ajuda, por exemplo, doando alimentos ou incentivando os integrantes a doarem sangue, ensinam crianças o jiu-jítsu que é uma arte marcial, para aprenderem a ética do esporte e depois levam esses meninos para competições profissionais obtendo excelentes resultados. Isso mostra que essas entidades têm compromissos e prestam serviços para a sociedade.
Com o passar dos anos o perfil dos integrantes mudou, as torcidas eram compostas por famílias e pessoas íntimas, de diferentes classes sociais e idades distintas. Hoje a torcida tem um perfil específico, geralmente são jovens que passaram ou passam por dificuldades, seja ela, na família, amigos ou no trabalho, esses fatores estão diretamente ligados ao meio social e interfere na atitude dessas pessoas desencadeando a violência. Nas torcidas, além de amor ao time esses jovens encontram abrigo e proteção, a violência não está na torcida, mas sim no desenvolvimento dessas pessoas antes da integração da torcida e este é um problema que já acontecia durante o desenvolvimento da sociedade.
Os casos de violência que estão relacionados com torcidas organizadas, é mais do que um problema no esporte, é de toda sociedade. Esses atos violentos estão no corpo social onde elas estão inseridas e identificando isso podemos evoluir para a solução. Sem saber da origem, vem o preconceito do público que evita o contato com as Organizadas e não prestigiam os jogos nos estádios dificultando a reintegração dessas pessoas na sociedade. Mas a solução também depende da Torcida Organizada que no modelo atual não tem estrutura educacional, como já tiveram em décadas passadas.
A mídia, sociedade e Torcida, são chaves para possível solução. A mídia deveria expor esses grupos para que as pessoas conhecessem melhor a funcionalidade da Torcida e as características dos integrantes, conhecendo esse perfil a sociedade corrigiria a base educacional, tornando os ambientes de sala de aula mais atrativos para os jovens e eficientes. A Torcida deve se “ORGANIZAR” de fato, propondo modelos de maior integração de todos participantes focando não no número de pessoas na torcida, mas mantendo a qualidade e apoio ao time.
Segundo a uma enquete feita pelo site OrganizadasBrasil.com, de 2701 integrantes de torcidas que participaram 1270(47,02%) votaram que a prioridade em uma Organizada era o número de componentes, 28,10% votaram em quantidade de materiais, 12,59% em Sede e 12,29% em Caravanas. Isso mostra que o objetivo visa na superioridade sobre outras torcidas, principalmente as rivais.
Passos já estão sendo dados para diálogos entre Torcidas Organizadas do Brasil e paz no futebol.
O Promotor de Justiça Paulo Sérgio de Castilho organizou nos dias 4 e 5 de julho, de 2009 o 1º Seminário Nacional de Tos, em São Paulo. O encontro reuniu as secretarias estaduais de segurança pública, Polícia Militar, pesquisadores, líderes e representantes de torcidas brasileiras e o objetivo era discutir sobre violência envolvendo torcidas e quebrar tabus que permeiam a contemporaneidade. Nesse seminário foi elaborado um documento com mais de 100 medidas de segurança, entre as medidas está a escolha do tipo do armamento dos policiais, a tomada de depoimentos, como articular o atendimento de saúde nos estádios, formas de monitorar o deslocamento das torcidas e como será organizado o transporte público em dias de jogo. Esses seminários continuam sendo realizados.
Em Maio de 2010 foi realizada a segunda edição no Rio de Janeiro com 200 representantes, debateram sobre formas de conter a violência nos estádios. Em 2014 foi a vez de Belo Horizonte receber a terceira edição, além do dia de debates todas as pessoas envolvidas assistiram palestras com os seguintes temas, “A mídia como canal positivo de informação para o torcedor”, “Uma experiência em policiamento em estádios”, “Cadastramento de Torcidas Organizadas: Associações e Membros/Associados”, etc.
Agradecimentos
A Sede da Máfia Azul e a Galoucura por ter permitido eu e meus amigos de faculdade a participarem do convívio da torcida, fotografar a torcida, entrevistar os integrantes e representantes. A equipe que esteve participando do trabalho: Bruno Braga, Danielle Abreu, Dannyelle Paiva, Gabriel Lacerda, Hamilton Henrique e Hugo Antônio.

(Máfia Azul caminhando até o Estádio independência-Foto:Hugo Antônio/Março de 2015)
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