Leonilson: Realidade e virtualidade em trabalhos minuciosos
- Márcio Júnior
- 12 de out. de 2015
- 3 min de leitura
O Centro Cultural do Banco do Brasil apresentou de 23 de julho á 28 de setembro, Leonilson:Truth, Fiction. José Leonilson Bezerra Dias foi um dos artistas de grande relevância da Geração 80, década que o artista mais produziu. Ele nasceu em Fortaleza, no ano de 1957, logo quando criança, se muda para São Paulo com sua família. A partir de então, começa ter aulas de arte todos os sábados durante a manhã. Em 1977, entra para o curso de Educação Artística da Fundação Armando Alves Penteado (FAAP). Assiste aulas de artistas como Júlia Plaza, Nelson Leiner e Regina Silveira. Simultaneamente, frequenta a Escola de Artes Áster e têm aulas de aquarela com Dudi Maia Rosa.
Nesse período, viaja para a Europa e divide o ateliê com o amigo e artista Luiz Zerbini. De volta ao Brasil, expõe pela primeira vez no salão Arte e Pensamento Ecológico em Santos, São Paulo. Mas a primeira exposição individual aconteceu em Salvador, intitulada “Cartas a um Amigo”, de 1980. Leonilson começa a se destacar no expoente da arte brasileira, com exposições no Museu de Arte Moderna de São Paulo e no Museu de Arte Contemporânea da USP. Nesse período desiste do curso da FAAP. Mais tarde, retorna a Europa e participa de feiras de arte na Alemanha, Espanha, Suíça, Itália e Portugal. Interessa-se pelo teatro na Europa, e no Brasil participa do grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone, cria figurinos, cenários, objetos de cena e textos. Em 1991, Leonilson descobre que é portador do vírus HIV e a experiência contamina a sua obra, mesma época em que inicia as ilustrações na coluna de Barbara Garcia no jornal Folha de S. Paulo, até maio de 1993, ano de seu falecimento causado pelo agravamento da doença.
A exposição “Leonilson: Truth, Fiction” tem como curador Adriano Pedroza, está disposta circularmente em sete temas que envolvem afetivamente momentos da vida do artista. Os 150 trabalhos consistem em colagens, bordados, costura, pinturas e uma instalação. Na sala “As geometrias e as matemáticas” aprofunda o estudo do artista pela geometria, formas, linhas, figuras planas e tridimensionais. Elementos remetem o Concretismo paulistano como o xadrez preto e branco e a linearidade. “Os Brancos” faz referência ao Minimalismo, à redução do mínimo no material e a simplicidade das cores. O vazio dos quadros carrega símbolos: crucifixos, cicatrizes, pânicos, poesias, vícios, etc. “As geografias” mostra o gosto do artista por mapas e paisagens, com desenhos e pinturas de corpos que quando agrupadas, se percebem mares, trilhas, cidades, desertos, pontes, montanhas que se confundem com membros e órgãos. Em “As ilustrações” são apresentas 96 das 102 ilustrações feitas por Leonilson na Folha de S. Paulo, encontramos referências a ícones, violência, corrupção, Aids, Congresso, entre outros. “A cena final”, “Os 1991” e “Os diários”, é perceptível a fragilidade e particularidade de um momento crucial em sua vida
Emoção é um dos pontos chave da exposição, que por si só mostra uma trajetória de decepções, tristeza, dor, religiosidade, vida e morte. Na obra “Os rios por meu fluido entrego meu coração”, de 1992. Ele se expõe em um mapa cartográfico, revela as verdades, a obscuridade pessoal, se abre em momento de estágio final, nos mostra o que está circulando em seu corpo, o vírus HIV evoluindo. Na única instalação e última obra da vida de Leonilson “A cena final - Instalação sobre duas figuras”, de 1993, os elementos vestidos de branco, formas purificadas, são oferecidos como personagens de uma situação religiosa entre a vida, paixão, e a morte. Lázaro de Bethânia é o personagem principal, segundo a bíblia, Jesus ressuscitou-o depois de quatro dias. A obra o representa com duas camisas brancas em um autorretrato duplo, outros personagens podem ser apresentados como o bem (Do bem coração) e o mal (Da falsa moral). Outra veste com saia, poderia ser interpretada como uma figura materna. Um trabalho que foi apresentado primeiramente na Capela do Morumbi e que mesmo exposto em outro local, carrega um caráter religioso.
A obra de Leonilson possui caráter autobiográfico, o trabalho ganha outras dimensões afetivas com o público. O artista tem grande versatilidade na utilização dos materiais. A cada obra encontramos aspectos emocionais. Com o avanço da doença conseguimos perceber a mudança na precisão dos movimentos no bordado e desenho. Apesar de 15 anos de produção, se destacou pelo minimalismo, das abordagens sobre temas "tabu" na sociedade, exposição da experiência de vida e questionamentos do objeto de arte e sua vida, em um período de transformações e transições no campo da arte brasileira.

(Instalação sobre duas figuras, Leonilson, 1993 / Foto: Márcio Júnior)
Referências
www.projetoleonilson.com.br
culturabancodobrasil.com.br/portal/leonilson-truth-fiction
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