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Crônica: Aqui tudo se cria e se transforma

  • Márcio Júnior
  • 4 de dez. de 2016
  • 3 min de leitura

Em face das premissas presentes no cotidiano, como todo vivente da contemporaneidade, tua relação com o mundo é funcional. Ato de servir sem reclamar. A problematização do presente te permite potencializar uma relação afetiva. Tua história é um enigma da ressignificação que te transforma em outras funcionalidades e personalidades. Todas elas presas à tua matéria ou se desprendem com a contribuição do que foi percebido com a metafísica; é ir além do elemento físico. Algumas noções surgem e sempre tudo aquilo que tu foste já não existe. Já não faz sentido fazer sentido, ser aquilo que teu rótulo te julga. Talvez esta seja uma natureza própria e mutável de tua existência. O que vem de encontro às várias de tuas facetas é sempre questionar, perceber-te.

Em meu cotidiano, não estabeleço barreiras por causa da tua identidade ou forma. Aliás, a forma nunca foi motivo para PRÉ-conceito, mas a cultura nos faz acreditar que devemos te usar de certa maneira e com propósito, com instrução. Carregas uma identidade e sem mais palavras. Quando há quem se intrometa e de súbito te troca de ambiente, função e padrão; esse radical é considerado hostil e lá vem aquele julgamento, te classificam de aberração, estranho, incompreensível e sem valor. Quem te desloca é um artista, escritor e compositor. São eternos radicais do mundo que fazem de tudo para te levar a abraçar novas possibilidades.

“Deixa a vida me levar, VIDA leva eu”. Essa vida que além de levar, escolhe. O momento de oficializar que não há propósito é agora. A partir das não escolhas, deixa propagar a incerteza.

A desconstrução é subversiva, o que tu encontras neste testemunho é um eterno questionamento. Então, proponho uma ordem crescente de tua história.

Ideia – Algo primordial acontece para os elementos que criamos. Às vezes, surge na necessidade ou na espontaneidade. É um primeiro resquício de teu nascimento. Tu foste discutida e elaborada. O imaginário desperta para o avanço. A curiosidade é um convite para o fascínio.

Construção – A idealização entra em estágio de produção. Estás sendo projetada para ocupar uma brecha da sociedade. O excedente é excluído e o que falta para seu ideial é incrementado.

Fixação – Chegou o momento de te lançar no mercado. Se tu conseguisses te fixar é porque houve uma apropriação adequada e esperada de tua funcionalidade. Ganhas as massas em uma replicação contínua da tua forma.

Transformação – O estranhamento de tua existência reverbera em experimentos multiuso. Tu visitas parques, cidades, museus, jardins, casas. Há probabilidade de haver uma turbinada em tua capacidade performática. O tamanho é modificado, slim. Esse é um experimento para o novo.

Identidade – Já se passaram anos para chegar até aqui. Muitos te estudaram, analisaram, experimentaram e te perceberam. Entrando em desuso, tu és capaz agora de seguir rumos que não te representam no passado. A tua reinventada identidade, agora, promove a tua mortalidade ou memória no mundo.

O que será de ti na era de convivência cada vez menos material. A matéria que pode representar a memória, passagem, resistência, resiliência, performance e paradoxo. O que não espero é de te confortar no presente.

No meu dia a dia, tu surges com muitas caras, cores e roupas. Mas no museu, muitos radicais, que me "confortam" profundamente, te ressignificam para além do estranhamento. Essa é uma relação questionada por eles. Esse museu me fez te perceber com outros olhares, olhar para o espaço que te pertence. Há pertencimento e outras opções para possuir o pertencimento. Com esses novos olhares, enxergo-te em uma escala própria.

Transformação - Podem existir várias novas facetas que variam de acordo com o ambiente ou como pertencer a ele. A experiência de usar-te é sempre um experimento. Deslocar é um bom começo.

Identidade - Assuma tua identidade. Liberta tua introspecção. Um campo livre está te esperando para a reafirmação de tua existência. Seja bem vinda de novo.

Essa escala subjetiva é mais sucinta, mas é de grande significância alcançar esse modelo. Dentro e fora do museu que arrisca seu valor ou potencialidade irônica. Os radicais, é claro, veem a capacidade plástica da técnica. Tu, objeto de arte, que como parte de nossa inerência, te permites habitar o teu mundo. Afinal, tudo se cria e se transforma.



(The Murder of Crows de Janet Cardiff e George Bures Miller, 2008/ Foto: Márcio Júnior)

(Desert Park de Dominique Gonzalez-Foerster, 2010/ Foto: Márcio Júnior)

(The Sleeping City de Dominik Lang, 2011/ Foto: Márcio Júnior)

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